Biografia de Jean Piaget


Biografia de Jean Piaget

1896-Em 9 de agosto, na cidade suíça de Neuchâtel, nasce Piaget.

1907-Com 10 anos publica na revista da Sociedade dos Amigos da Natureza de Neuchâtel um artigo com estudos sobre um pardal branco.

1915-Forma-se em Biologia pela Universidade de Neuchâtel.

1918-Torna-se doutor. Sua tese foi sobre moluscos.
Muda-se para a Zurique para estudar Psicologia (principalmente psicanálise).

1919-Muda-se para a França. Ingressa na Universidade de Paris.
É convidado a trabalhar com testes de inteligência infantil.

1921-A convite do psicólogo da educação Edouard Claparède (Escola Nova) passa a fazer suas pesquisas no Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, destinado à formação de professores.

1923-Lança seu primeiro livro: A Linguagem e o Pensamento da Criança.

1924-Casa-se com Valentine Châtenay, uma de suas assistentes, com quem teve três filhos: Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laureni (1931).

1925-Começa a lecionar Psicologia, História da ciência e Sociologia em Neuchâtel.

1929-Em Genebra passa a ensinar História do Pensamento Científico.
Assume o Gabinete Internacional de Educação (dedicado a estudos pedagógicos).

1930-Escreve vários trabalhos sobre as primeiras fases do desenvolvimento, muitos deles inspirados na observação de seus três filhos.

1941-Com as pesquisadoras Bärbel Inhelder e Alina Szeminska, publica trabalhos sobre a formação dos conceitos matemáticos e físicos.

1946-Participa da elaboração da Constituição da Unesco, órgão das Nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Torna-se membro do conselho executivo e é várias vezes subdiretor geral, responsável pelo Departamento de Educação.

1950-Publica a primeira síntese de sua teoria do conhecimento: Introdução à Epistemologia Genética.

1952-É convidado a lecionar na Universidade de Sobonne, em Paris, sucedendo ao filósofo Merleau-Ponty.

1955-Em genebra, funda o Centro Internacional de Epistemologia Genética, destinado a realizar pesquisas interdisciplinares sobre a formação da inteligência.

1967-Escreve a principal obra de sua maturidade: Biologia e Conhecimento.

1980-16 de setembro, morre Piaget em Genebra.

Estágio de desenvolvimento


A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.

Exemplos:
O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca.

Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica . Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior (sensório-motor).
A criança deste estágio:

* É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.
* Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês").
* Já pode agir por simulação, "como se".
* Possui percepção global sem discriminar detalhes.
* Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.

Exemplos:
Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações.

A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.
desenvolve a capacidade de representar uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada (reversibilidade).

Exemplos:
despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.

A representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais a representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade.
Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todoas as classes de problemas.

Exemplos:
Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos.

Observação: a maioria dos exemplos foram retirados da reportagem "Jean Piaget", escrita pela jornalista Josiane Lopes, da revista Nova Escola, ano XI, nº 95, de agosto de 1996.

Teoria de Piaget



A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado.

Josiane Lopes, (revista Nova Escola - ano XI - Nº 95), cita que para quando o equilíbrio se rompe, o indivíduo age sobre o que o afetou buscando se reequilibrar. E para Piaget, isso é feito por adaptação e por organização.

Esquema:
Autores sugerem que imaginemos um arquivo de dados na nossa cabeça. Os esquemas são análogos às fichas deste arquivo, ou seja, são as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o meio.
São estruturas que se modificam com o desenvolvimento mental e que tornam-se cada vez mais refinadas à medida em que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos.
Por este motivo, os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança e, os processos responsáveis por esses mudanças nas estruturas cognitivas são assimilação e acomodação.

Assimilação:
É o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento, ...) a um esquema ou estrutura do sujeito.
Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas.
Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui.

Acomodação:
É a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado.
A acomodação pode ser de duas formas, visto que se pode ter duas alternativas:

* Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou
* Modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele.

Após ter havido a acomodação, a criança tenta novamente encaixar o estímulo no esquema e aí ocorre a assimilação.
Por isso, a acomodação não é determinada pelo objeto e sim pela atividade do sujeito sobre este, para tentar assimilá-lo.
O balanço entre assimilação e acomodação é chamado de adaptação.

Equilibração:
É o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. Uma fonte de desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação ocorra de determinada maneira, e esta não acontece.

A ética e a moral Na educação dos filhos




Há muitos anos, quando meus filhos ainda eram pequenos, assisti a uma cena que trago na memória até hoje. Era um daqueles campeonatos de judô, em que a gente vai para prestigiá-los. Ali pelas tantas, enquanto uma das lutas aconteciam no tatame, havia um pai ao meu lado, que torcia para o seu filho e num certo momento, tomado pela emoção, imagino, começou a gritar : "vamos filho, derruba ele, vai, acaba com ele, mata ele!"

Ao ouvir aquelas palavras me senti profundamente incomodada, até um pouco entristecida, e algumas reflexões vieram à minha mente. Aquela era apenas uma luta de judô entre amigos de uma mesma academia e que tinham de cinco a sete anos. Será que aquele menino teria de ganhar a luta a qualquer custo para atender aos anseios de seu pai? E se ele perdesse a luta, o que, afinal, aconteceria?

Muitos de nós já vivenciamos situações bastante delicadas, quando nossos filhos foram agredidos por outras crianças e ficamos em dúvida quanto ao incentivo sobre "devolver ou não na mesma moeda." E quem de nós já não teve aquele impulso incontrolável de dizer para o filho furar a fila do cinema e dar uma de espertinho?

Se todos fazem isso, por que e para que faríamos diferente? Será que nesse mundo tão desumano vale a pena sermos honestos? Que tipo de valores queremos transmitir aos nossos filhos? Qual será o seu futuro e o futuro de nossa sociedade? Será que não corremos o risco de criarmos filhos indefesos e bobões? Afinal, o mercado de trabalho está cada vez mais difícil e temos de prepará-los para a luta!

Vivemos hoje, com certa tristeza, uma crise de valores éticos e morais. Afirmamos o nosso individualismo, acentuamos a nossa competitividade, ficamos cada vez mais isolados nesse mundo selvagem onde prevalece a "lei de Gerson".

Penso que é fundamental podermos, como pais, estabelecer os padrões que nortearão nossa conduta educacional, a linha que pretendemos seguir, os valores e crenças nos quais acreditamos, aqueles que valorizamos. Não podemos esquecer jamais da ética e da moral !!! O legado moral que passarmos aos nossos filhos poderá, no meu entendimento, determinar futuramente uma mudança de valores na nossa sociedade. Acredito fortemente em efeitos multiplicadores.

Se cada pai e mãe se preocupar seriamente em desenvolver nos seus filhos condutas éticas de amor e respeito ao próximo, sentimentos de justiça social, solidariedade, honestidade, amizade, lealdade, o efeito multiplicador desses princípios poderá levar muitos indivíduos a se preocuparem mais com os seus semelhantes.

Se, ao contrário, acharmos que para viver nesse mundo teremos de incentivar ou até ficar impassíveis frente a situações de agressão, desonestidade, falta de respeito, com certeza e com profundo pesar, estaremos selando o nosso próprio destino porque os nossos filhos não terão desenvolvido sentimentos positivos nem mesmo em relação aos seus próprios pais. O que dizer, então, em relação aos irmãos, amigos, professores, avós e por aí afora.

Alguns poderão dizer que estou exagerando ou sendo muito idealista! No entanto, quero dizer que, como pessoa humana e profissional, acredito na capacidade do ser humano de se transformar num cidadão cada vez melhor. Conseguir isso não é nada fácil, muito menos rápido. Sabemos bem que crianças muito pequenas batem e mordem movidas por impulsos ou reações de frustração. Claro que elas ainda não têm condições de equilíbrio ou maturidade para pensar no outro. É um comportamento até normal em determinadas fases. Mas esse fato não justifica que os pais fiquem quietos e deixem passar uma excelente oportunidade para trabalhar conceitos éticos importantes, conceitos que não surgem por si só, mas pelo trabalho árduo e incessante.

Se nos alienamos, concordamos. Se, com carinho - porém, firmemente -, interferimos, estaremos mostrando-lhes que os nossos valores são outros, menos individualistas e nem por isso nos tornamos mais frágeis ou bobões. Esse é o melhor ensinamento: o nosso exemplo, a nossa forma de viver. Quanto aos outros pais não agirem da mesma forma, sempre digo e direi: se nosso vizinho rouba ou bebe, iremos fazer também? Se um colega de trabalho nos trai, faremos o mesmo?

Diante dos fatos atrozes de horror, ódio e intolerância, ocorridos nas últimas semanas nos Estados Unidos, o que poderemos dizer aos nossos filhos? Não, não podemos deixar que isso passe despercebido a nós ou a eles! Temos aí uma grande oportunidade de dizer a eles o que pensamos sobre o amor ao próximo, o respeito às diferenças de raça, cor ou religião e o valor que damos à vida humana. Afinal, somos cidadãos do mundo.

É, na realidade, no dia a dia que as crianças se formam, que os melhores e piores exemplos são assimilados. Não podemos, de forma alguma, deixar que esses acontecimentos nos tornem pessoas mais frias ou desesperançosas com a humanidade. Precisamos acreditar num mundo melhor, mais justo, pois só com essa crença poderemos agir e alcançar os nossos objetivos. Não percamos a fé no ser humano!!! Não percamos a esperança na nossa capacidade de fazer mudanças efetivas e ajudarmos na construção de um futuro melhor para os nossos filhos e netos. Coragem!

COM CARINHO...

O Papel do Pai na Educação

O Papel do Pai na Educação

"Alguns homens efetivamente não conseguem ficar absorvidos pelo bebê. Em nossa sociedade, às vezes acontece de os homens acharem meio "bobo" se interessar demais pelos bebês e, então, fingem falta de interesse. Quando os filhos crescem, conseguem admitir mais facilmente que sentiam orgulho e amor pelos filhos."

Dentre as inúmeras necessidades humanas, as de afeto e segurança têm, indiscutivelmente, prioridade. Quando elas são satisfeitas, temos garantias eficazes para o crescimento do ser humano; se, pelo contrário, houver frustrações, haverá desajustes mais ou menos graves. A criança necessita de amor. Esse é um lema moderno que ouvimos muito freqüentemente. Mas, o que é preciso dizer? O recém-nascido é completamente indefeso, dependente e precisa de cuidados constantes para que não sofra de fome, frio ou dor. Como ele não tem noção de tempo e espaço, ao sentir fome, fica perdido e somente a assistência afetiva da mãe ou alguém que a substitua regularmente poderá, aos poucos, propiciar-lhe a certeza de que o alimento não lhe faltará. Bem sabemos, no entanto, que os cuidados com o bebê não se restringem à alimentação ou às necessidades corporais; desde as primeiras semanas, o bebê é um ser humano completo, com sentimentos, emoção e idéias. O amor da mãe é que o protegerá de algumas sensações desconcertantes e desagradáveis que vêm do mundo externo e que lhe causam desconforto. A mãe é a iniciadora do filho na vida. Conforme as experiências deste sejam satisfatórias ou frustrantes, ele estará se preparando para a liberdade e para aceitar a autoridade.

O papel do pai

E o pai, qual é a sua importância nos primeiros meses? Durante mais de meio século, a partir das descobertas de Freud e de outros estudiosos do psique humana, enfatizou-se a importância da relação mãe-filho. Somente nos últimos anos - e muito timidamente - começou-se a estudar a importância da figura do pai desde os primeiros dias de vida. Estudos e pesquisas revelaram que é fundamental para a vida da criança que seu nascimento seja desejado; sentir-se filho do pai é tão primordial para o desenvolvimento do indivíduo como o próprio fato de sê-lo. O papel do pai nos primeiros três meses é indireto, porém muito importante para que a mãe proporcione segurança ao bebê. Durante as primeiras semanas, quando a mãe e o bebê estão lutando para se conhecer, para se adaptarem um ao outro, a atitude do pai pode ser de grande ajuda. Como? Participando de algumas de suas ansiedades, ele poderá lhe dar o apoio de que ela talvez esteja precisando para enfrentar uma situação difícil, ajudando-a a ver as coisas com mais clareza.
Alguns homens efetivamente não conseguem ficar absorvidos pelo bebê. Em nossa sociedade, às vezes acontece de os homens acharem meio "bobo" se interessar demais pelos bebês e, então, fingem falta de interesse. Quando os filhos crescem, podem admitir mais facilmente que sentiam orgulho e amor pelos filhos.

Reações do bebê

É interessante notar como, em torno dos 4-5 meses, o bebê começa a reagir ao pai de um modo especial e diferente da maneira como reage à presença da mãe e a dos demais adultos. A espécie de relacionamento que vai se formando entre o pai e o bebê nesses primeiros meses dependerá, por um lado, do quanto a mãe o estimula a participar do banho e da alimentação da criança, como também das possibilidades do próprio pai estar em casa nas horas em que o bebê está acordado e de sua facilidade em entrar em contato com ele.
A partir do primeiro ano de vida, o pai começa a aparecer mais. Ele representa a responsabilidade. É o contato com a realidade. O pai que ama os filhos não é somente aquele que manda, mas aquele de quem a criança tem orgulho e com quem quer se parecer. Essa admiração é o elemento de masculinidade que o pai transmite. Encontrar-se com o pai significará não somente poder separar-se da mãe, mas também encontrar uma fonte de identificação masculina, imprescindível tanto para a menina como para o varão. Isso porque a condição bissexual da psique humana (o que Jung chamava de animus nas mulheres e anima nos homens) torna necessário o casal "pai" e "mãe" para que se consiga um desenvolvimento normal da personalidade.

A autoridade paterna

Se, por um lado, é função da mãe dar aos filhos dos dois sexos a imagem da feminilidade, na sua competência, importância, afetividade e maternidade, o pai, por sua vez, é sentido pelos filhos em sua universalidade, a transmitir-lhes o papel da autoridade suprema (apesar do fato de a autoridade diária estar muitas vezes diretamente ligada à mãe). Essa distinção entre a autoridade materna e paterna são os modelos que a criança possui para fazer frente às fontes de autoridade, que irão desempenhar no futuro uma função importante no seu ajustamento à sociedade, além de cumprir uma função fundamental no desenvolvimento de sua sexualidade.

Sigmund freud..

Traços biográficos

Nascido no ano de 1856 em Freiberg, na Morávia, Sigmund Freud é considerado o pai da psicanálise. Estudou medicina na Universidade de Viena e desde cedo se especializou em neurologia. Seus estudos foram os pioneiros acerca do inconsciente humano e suas motivações. Ele, durante muito tempo (de fins do século passado até início do nosso século), trabalhou na elaboração da psicanálise.

A Metodologia Freudiana

A psicanálise é um método de tratamento para perturbações ou distúrbios nervosos ou psíquicos, ou seja, provenientes da psique; bastante diferente da hipnose ou do método catártico. A terapêutica pela catarse hipnótica deu excelentes resultados, não obstante as inevitáveis relações que se estabeleciam entre médico e paciente. Posteriores investigações levaram Freud a modificar essa técnica, substituindo a hipnose por um método de livre associação de idéias (psicanálise).

O método psicanalítico de Sigmund Freud, consistia em estabelecer relações entre tudo aquilo que o paciente lhe mostrava, desde conversas, comentários feitos por ele, até os mais diversos sinais dados do inconsciente.

O psicanalista deveria "quebrar" os vínculos, os tratos que fazemos ao nos comunicarmos uns com os outros. Ele não poderia ficar sentado ouvindo e compreendendo apenas aquilo que o seu paciente queria dizer conscientemente, mas perceber as entrelinhas daquilo que ele o diz. É o que se chama de quebra do acordo consensual. Há uma ruptura de campo, pois o analista não se restringe somente aos assuntos específicos, e sim ao todo, ao sentido geral.

Freud sempre achou que existia um certo conflito entre os impulsos humanos e as regras que regem a sociedade. Muitas vezes, impulsos irracionais determinam nossos pensamentos, nossas ações e até mesmo nossos sonhos. Estes impulsos são capazes de trazer à tona necessidades básicas do ser humano que foram reprimidas, como por exemplo, o instinto sexual. Freud vai mostrar que estas necessidades vêm à tona disfarçadas de várias maneiras, e nós muitas vezes nem vamos ter consciência desses desejos, de tão reprimidos que estão.

Freud ainda supõe, contrariando aqueles que dizem que a sexualidade só surge no início da puberdade, que existe uma sexualidade infantil, o que era um absurdo para a época. E muitos de nossos desejos sexuais foram reprimidos quando éramos crianças. Estes desejos e instintos, sensibilidade sensitiva que todos nós temos, são a parte inconsciente de nossa mente chamada id. É onde armazenamos tudo o que foi reprimido, todas as nossas necessidades insatisfeitas. "Princípio do prazer" é esta parte que existe em cada um de nós. Mas existe uma função reguladora deste "princípio do prazer", que atua como uma censura ante aos nossos desejos, que é chamada de ego. Precisamos desta função reguladora para nos adaptarmos ao meio em que vivemos. Nós mesmos começamos a reprimir nossos próprios desejos, já que percebemos que não vamos poder realizar tudo o que quisermos. Vivemos em uma sociedade que é regida por leis morais, as quais tomamos consciência desde pequenos, quando somos educados. A consciência do que podemos ou não fazer, segundo as regras da sociedade em que vivemos é a parte da nossa mente denominada superego (princípio da realidade). O ego, vai se apresentar como o regulador entre o id e o superego, para que possamos conciliar nossos desejos com o que podemos moralmente fazer. O paciente neurótico nada mais é do que uma pessoa que despende energia demais na tentativa de banir de seu consciente tudo aquilo que o incomoda (reprimir), por ser moralmente inaceitável.

A psicanálise se apoia sobre três pilares: a censura, o conteúdo psíquico dos instintos sexuais e o mecanismo de transferência. A censura é representada pelo superego, que inibe os instintos inconscientes para que eles não sejam exteriorizados. Nem sempre isso ocorre, pode ser que eles burlem a censura, por um processo de disfarce, manifestando-se assim com sintomas neuróticos. Existem diversas formas de exteriorizarmos nossos instintos inconscientes: os atos falhos, que podem revelar os segredos mais íntimos e os sonhos. Os atos falhos são ações inconscientes que estão em nosso cotidiano; são coisas que dizemos ou fazemos que um dia tínhamos reprimido. Por exemplo: certo dia, um bispo foi visitar a família de um pastor, que era pai de umas meninas adoráveis e muito comportadas. Este bispo tinha o nariz enorme. O pastor pediu às suas filhas para que não comentassem sobre o nariz do bispo, pois geralmente as crianças começam a rir quando notam este tipo de coisa, já que o mecanismo de censura delas não está totalmente formado. Quando o bispo chegou, as meninas se esforçaram ao máximo para não rirem ou fazerem qualquer comentário a respeito do notável nariz, mas quando a irmã menor foi servir o café, disse:

- O senhor aceita um pouco de açúcar no nariz ?

Este é um exemplo de um ato falho, proveniente de uma reprimida vontade ou desejo. Outro meio de tornarmos conscientes nossos desejos mais ocultos é através dos sonhos. Nos sonhos, o nosso inconsciente (id) se comunica com o nosso consciente (ego) e revelamos o que não queremos admitir que desejamos, pelo fato da sociedade recriminar (principalmente os de caráter sexual).

Os instintos sexuais são os mais reprimidos , visto que a religião e a moral da sociedade concorrem para isso. Mas, é aí que o mecanismo de censura torna-se mais falho, permitindo assim que apareçam sintomas neuróticos. Explicando a sua teoria da sexualidade, Freud afirma que há sinais desta logo no início da vida extra uterina, constituindo a libido.

A libido envolve do nascimento à puberdade, períodos de gradativa diferenciação sexual. A primeira fase é chamada de período inicial, onde a libido está direcionada para o próprio corpo, oral e analmente. A segunda fase, o período edipiano, que se caracteriza por uma fixação libidinal passageira entre os 4 e os 5 anos, também conhecida como "complexo de Édipo", pelo qual a libido, já dirigida aos objetos do mundo exterior, fixa a sua atenção no genitor do sexo oposto, num sentido evidentemente incestuoso. Por fim o período de latência, iniciado logo após a fase edipiana, só irá terminar com a puberdade, quando então a libido toma direção sexual definida.

Esses períodos ou fases são essenciais ao desenvolvimento do indivíduo, se ele as resolver bem será sadio, porém qualquer problema que porventura ele tiver em superá-las, certamente iniciará um processo de neurose.

Último dos pilares da psicanálise, a transferência, é também uma arma, um trunfo usado pelos psicanalistas para ajudar no tratamento do paciente. Naturalmente, o paciente irá transferir para o analista as suas pulsões, positivas ou negativas, criando vínculos entre eles. O tratamento psicológico deve, então, ser entendido como uma reeducação do adulto, ou seja, uma correção de sua educação enquanto criança.

Assim, Freud desenvolveu um método de tratamento que se pode igualar a uma "arqueologia da alma", onde o psicanalista busca trazer à luz as experiências traumáticas passadas que provocaram os distúrbios psíquicos do paciente, fazendo com que assim, ele encontre a cura.


Quando me amei de verdade


Quando me amei de verdade
Quando me amei de verdade,
compreendi que em qualquer circunstância,
eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E, então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome...
Auto-estima.

Quando me amei de verdade,
pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional,
não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é...
Autenticidade.

Quando me amei de verdade,
parei de desejar que a minha vida fosse diferente
e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento .
Hoje chamo isso de...
Amadurecimento.

Quando me amei de verdade,
comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação
ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo,
mesmo sabendo que não é o momento
ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é...
Respeito.

Quando me amei de verdade,
comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável ...
Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.
De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama...
Amor-próprio.

Quando me amei de verdade,
deixei de temer meu tempo livre
e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é...
Simplicidade.

Quando me amei de verdade,
desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri a...
Humildade.

Quando me amei de verdade,
desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o Futuro.
Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é...
Plenitude.

Quando me amei de verdade,
percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar.
Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração,
ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é....
SABER VIVER ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

Não devemos ter medo dos confrontos...
Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas."

(Charles Chaplin)

Crianças desaparecidas

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Certificado de garantia.

O meu diploma continua valendo?


O meu diploma continua valendo?

Eduardo Albarello


Evandro Galini, formado em Pedagogia: habilitação para lecionar será concedida até 2004

Marcos Evandro Galini tem 25 anos e as mudanças na habilitação do curso de Pedagogia quase estragaram sua festa de formatura no ano passado. "Fomos pegos de surpresa, e ainda por cima por um documento impreciso e contraditório", diz. "O que acontece com quem acabou de se formar?"

Éfrem Maranhão, presidente do CNE, garante que nada muda para quem é formado ou já está cursando Pedagogia. Quem entrar no curso até 2004 também sai com a habilitação para o Magistério. Mas quem começar a faculdade depois disso, ou seja, de 2005 em diante, terá apenas o diploma de pedagogo apto a trabalhar na administração, no planejamento, na inspeção, na supervisão e na orientação educacional.

Nesse caso, para lecionar, o pedagogo terá de complementar sua formação com o diploma do Normal Superior, que será oferecido por instituições de Ensino Superior públicas e privadas ou pelos Institutos Superiores de Educação, unidades acadêmicas que serão criadas especificamente com esse fim.

Na Universidade de São Paulo (USP), a Pró-Reitoria de Graduação optou por não criar essa carreira, ao menos por enquanto. "Não concordamos com o decreto e achamos que o curso de Pedagogia satisfaz as necessidades da educação nacional", diz a diretora da Faculdade de Educação, Myriam Krasilchik.

Carreira profissional



Como fica o curso de pedagogia
Entenda o que muda na sua vida com o decreto que altera a formação dos docentes da Educação Básica
Priscila Ramalho
Geyson Magno/ Limiar


Helena, com seus alunos do sítio Serra Nova: cursos especiais vão garantir o diploma de magistério

O ano passado terminou com uma notícia polêmica na Educação. Decreto assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 6 de dezembro retirou do curso de Pedagogia a habilitação para o exercício do Magistério. Com a nova regra, só poderá lecionar na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental quem cursar o Normal Superior, modalidade que será criada no ano que vem. A Lei de Diretrizes e Bases, LDB, já previa a criação desse curso. A surpresa foi o decreto colocá-lo como exigência para essas séries. Como a medida deixou muita gente confusa, Nova Escola procurou o presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), Éfrem de Aguiar Maranhão, um dos idealizadores do novo curso, para tirar suas dúvidas.

Divulgação


Éfrem Maranhão: as mudanças serão implantadas gradativamente

Em primeiro lugar, Maranhão pede calma: "Estamos alterando pontos-chave do sistema de formação dos professores o que já era necessário há um bom tempo , mas nada acontecerá de um dia para o outro". Ele explica que as mudanças não vão atingir quem já leciona, seja na rede pública, seja na privada. "Para os atuais professores, o curso é recomendável, mas não compulsório. Ninguém vai perder o emprego."

Para se adaptar aos novos parâmetros educacionais, os professores que estão no sistema poderão fazer treinamentos e cursos de atualização. Se quiserem cursar a nova faculdade, poderão eliminar até 800 horas (um ano) de estudo.

As instituições de ensino têm até 2004 para se adaptar à nova legislação. Até lá, o curso de Pedagogia continua oferecendo a habilitação ao Magistério. As diretrizes curriculares do novo curso serão criadas ainda neste semestre pelo CNE. "De maneira geral, os alunos terão maior formação em metodologia para alfabetizar, além do reforço dos conteúdos disciplinares", explica o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Leia nos três quadros o que acontece com os leigos, com quem já leciona sem ter um curso superior e com quem acabou de se formar em Pedagogia.

O que não pode faltar na educação





O que não pode faltar
Para que as turmas de creche e pré-escola se desenvolvam plenamente, é preciso conhecer as características de cada faixa etária e garantir que algumas experiências essenciais façam parte do planejamento. Saiba como trabalhá-las e por que são tão importantes
wrAutor('Beatriz Santomauro, de Vitória, ES, e Luiza Andrade','',', colaboraram Bianca Bibiano; Denise Pellegrini, de Curitiba, PR; Julia Browne, de Belo Horizonte, MG; Marina Simeoni, de Poços de Caldas, MG; Thais Gurgel, de Sobral, CE; e Vilmar Oliveira, de São José dos Campos, SP')
Beatriz Santomauro, de Vitória, ES, e Luiza Andrade, colaboraram Bianca Bibiano; Denise Pellegrini, de Curitiba, PR; Julia Browne, de Belo Horizonte, MG; Marina Simeoni, de Poços de Caldas, MG; Thais Gurgel, de Sobral, CE; e Vilmar Oliveira, de São José dos Campos, SP

Até há pouco tempo, os pequenos das creches passavam o dia alimentados e limpos, cada um seguro em seu berço. E só. Já aos maiores, da pré-escola, eram propostas atividades, como colar bolinhas de papel em figuras mimeografadas. Hoje já não se admite uma Educação Infantil nesses moldes e o motivo é simples: existem referências de práticas pedagógicas que respeitam as características das faixas etárias e, assim, promovem o desenvolvimento das turmas de até 6 anos.
Reportagem sugerida pelos leitores
Sara Alves de Souza, São Paulo, SP Teresa Cristina Serejo Pinto, São Luís, MA Adriana Santos Silva, Camaragibe, PE Maria Aparecida Braga de Campos, São Paulo, SP Fabiana Bartholomeu, Guarulhos, SP
"É comum encontrarmos alguns modelos mais próximos do Ensino Fundamental adaptados para as crianças menores ou outros, que subestimam a inteligência e a capacidade delas", afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita (FVC). Essa situação deve - e pode - ser diferente. Para tanto, é necessário que a Educação Infantil seja baseada em uma proposta pedagógica consistente. Além disso, quem leciona nesse nível de ensino precisa ter como parte de sua rotina o planejamento e a avaliação das atividades. Tudo sempre levando em consideração a organização do tempo, do espaço e dos materiais em função das características da turma. Muitas das condições para um trabalho desse tipo são dadas pelos estudos sobre o desenvolvimento infantil atualmente disponíveis (leia entrevista com a psicopedagoga Denise Argolo Estill no quadro da página 51 e com o psicólogo Lino de Macedo no da 55). Existem boas práticas que respeitam o modo de ser e de pensar específico de cada idade. "Forçar os bebês a ficar sentados e quietos o tempo todo é inadequado, pois está provado que usar o corpo em movimento é um dos meios que eles têm de aprender", afirma Cisele Ortiz, coordenadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. Da mesma forma, pedir que uma classe de pré-escola apenas pinte ou complete uma figura pronta, por exemplo, não leva a nada. Hoje já se sabe que é preciso desenvolver as diversas linguagens da criança para que se ampliem suas capacidades cognitivas, e o desenho é uma delas. Esses conhecimentos vêm sendo divulgados desde que a Educação Infantil começou a ganhar importância, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que considerou essa etapa do ensino parte da Educação Básica. Mas falta muito para que esses saberes sejam incorporados à rotina de todas as escolas e, mais ainda, para que toda criança de até 6 anos tenha garantida sua vaga. O Plano Nacional de Educação tem como meta para o início de 2011 o atendimento de 50% dos pequenos de até 3 anos e de 80% para a faixa de 4 a 6. "Por enquanto, não há planos de universalizar a Educação Infantil ou um grande aumento de vagas. O maior desafio atualmente é buscar a igualdade de estrutura e qualidade oferecidas", diz Rita Coelho, coordenadora geral da Educação Infantil do Ministério da Educação. Nesse sentido, estão sendo preparados para 2009 os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil, documento para autoavaliação de cada instituição, que trará referências sobre o que é necessário ser oferecido nesse nível. NOVA ESCOLA conversou com 12 especialistas e listou dez experiências a serem propostas diariamente para que as turmas de creche e pré-escola se desenvolvam. Quatro delas - brincar, linguagem oral, movimento e arte - são indicadas para as duas faixas etárias, porém com enfoques diferentes. O início do trabalho com identidade e autonomia foi ressaltado como fundamental com as classes de até 3 anos e orienta as atividades pedagógicas e de cuidados. Leitura e escrita ganham destaque com os maiores.
EDUCAÇÃO INFANTIL - CRECHE
Brincar Por que trabalhar Embora a brincadeira seja uma atividade livre e espontânea, ela não é natural, mas uma criação da cultura. O aprendizado dela se dá por meio das interações e do convívio com os outros. Por isso, a importância de prever muito tempo e espaço para ela. "Temos a capacidade de desenvolver a imaginação - e é essa habilidade que o brincar traz", diz Zilma de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP).
Foto: Diana Abreu
BRINCAR Brinquedos com peças de montar, encaixar, jogar e empilhar possibilitam desafios
O que propor Uma das primeiras brincadeiras do bebê é imitar os adultos: ele observa e reproduz gestos e caretas no mesmo momento em que acontecem. Com cerca de 2 anos, continua repetindo o que vê e também os gestos que guarda na memória de situações anteriores, tentando encaixá-los no contexto que acha adequado. Tão importante quanto valorizar essas imitações é propor ações físicas que possibilitam sensações e desafios motores. "É pela experimentação que a criança se depara com as novidades do espaço, sente cheiros e percebe texturas, tamanhos e formas", explica Ana Paula Yasbek, coordenadora pedagógica da Escola Espaço da Vila, em São Paulo. Alguns brinquedos também fazem sucesso nessa fase. Os mais adequados são os de peças de montar, encaixar, jogar e empilhar, além dos que fazem barulho. É preciso ter cuidado com a segurança e só usar objetos maiores do que o tamanho da boca do bebê quando aberta. Para um trabalho eficiente, uma boa estrutura é essencial. Isso inclui ter material suficiente para que todos consigam compartilhar e um bom espaço de criação. "Os ambientes devem ser convidativos e contextualizados com a história que se quer construir", diz Ana Paula. Uma área ao ar livre, mesmo que com poucas árvores, vira uma grande floresta. Uma sala bem cuidada, rica em cores e com variedade de brinquedos e estímulos igualmente possibilita momentos criativos, prazerosos e produtivos.
Foto: Marcos Rosa/Diana Abreu
BRINCAR Momento de construir histórias (à esq.) e perceber formas (no centro) e texturas (direita)
Esta creche faz Em Vitória, capital capixaba, a brincadeira é parte da rotina diária da CMEI João Pedro de Aguiar. As salas das turmas de 2 anos, por exemplo, são divididas em cantos. Num deles ficam os brinquedos de madeira para montar. Noutro, bichos de pelúcia e bonecas. Num terceiro, livros. Tudo em uma altura que permita a todos pegar o que querem sem ajuda. Diariamente, a classe passa um bom tempo no pátio, em que uma área é forrada de areia e outra acomoda brinquedos de plástico, como escorregador e cavalinho de balanço. "Ali, os pequenos correm e encontram amigos de outras turmas para que tenham a oportunidade de viver novas situações", diz a coordenadora pedagógica Wanusa Lopes da Silva Zambon. Linguagem oral Por que trabalhar Quando o bebê se expressa com gritos ou gestos, ele tem uma intenção. "Mesmo os que têm pouco vocabulário ou que ainda não falam com desenvoltura estão participando da atividade comunicativa de forma competente e correta", diz Maria Virgínia Gastaldi, Editora de Educação Infantil da Editora Moderna. Para que a linguagem oral se desenvolva, cabe ao professor reconhecer a intenção comunicativa dos gestos e balbucios dos bebês, respondendo a eles, e promover a interação no grupo.
Foto: Marcos Rosa/Diana Abreu
LINGUAGEM ORAL Gestos (à esq.), diferentes expressões faciais (direita), balbucios e gritos dão início à fala
O que propor Desde muito cedo, cantigas de roda, parlendas e outras canções são meios riquíssimos de propiciar o contato e a brincadeira com as palavras e de estimular a atenção a sua sonoridade. "O burburinho das conversas entre os pequenos, falando sozinhos ou com os outros, é riquíssimo. Não se admite mais a idéia de manter a sala em silêncio, com aparência que está tudo ‘sob controle’", diz Regina Scarpa, da FVC. As rodas de conversa, feitas diariamente, são uma oportunidade de praticar a fala, comentar preferências próprias e trocar informações sobre a família. Nessa situação, há a interação com os colegas e aprende-se a escutar, discutir regras e argumentar. Quanto menor for a faixa etária do grupo, mais necessária será a interferência do educador como propositor e dinamizador dos diálogos. Esta creche faz Todos os dias, a turma de 2 anos da EMEB Valderez Avelino de Souza, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, participa de rodas de conversa. Nessa fase, acontecem relatos de experiências pessoais no bate-papo, além da invenção de outros elementos. Foi o que aconteceu no dia em que um dos pequenos contou que tinha visto um tubarão. "Outro completou dizendo que aquilo tinha sido na praia e um terceiro falou que nadava como o bicho", conta a coordenadora pedagógica Pétria Ângela de Jesus Rodrigues Ruy dos Santos. A professora foi puxando o assunto e encaminhando a conversa. Um garoto, que até então estava quieto, saiu-se com esta: "Meu pai pescou um tubarão. Ele era enorme. Professora, quer ir pescar com meu pai?" Sabendo que é muito comum nessa fase mesclar informações reais com outras tiradas da imaginação, ela, é claro, aceitou o convite. Movimento Por que trabalhar O movimento é a linguagem dos pequenos que ainda não falam e continua sendo a maneira de se expressar daqueles que já se comunicam com palavras. "O pensamento é simultâneo ao movimento e, por isso, não se pede que eles fiquem sentados ou quietos por muito tempo. Evitar que se mexam é o mesmo que impedi-los de pensar", explica Maria Paula Zurawski, assessora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Portanto, quanto mais o professor incentivar o movimento, maior será o aprendizado de cada um sobre si mesmo e o desenvolvimento da capacidade de expressão.
Foto: Marcos Rosa
MOVIMENTO Livres sobre colchões, os bebês podem andar e passar por obstáculos, como bambolês
O que propor O bebê precisa participar de atividades que ampliem o repertório corporal para que percorra um caminho de gradativo controle dos movimentos até conseguir se levantar e andar. Aos poucos, ele passa a ter consciência dos limites do corpo e da conseqüência de seus movimentos. São situações indicadas para o amadurecimento motor passar por obstáculos como túneis, correr e brincar no escorregador. Os espaços da creche devem ser desafiadores e, ao mesmo tempo, seguros. São ambientes propícios para as atividades desse tipo tanto o pátio como a sala. Ali, são colocados bancos ou caixas que sirvam de apoio para os que estão começando a andar e ficam distribuídos brinquedos de equilíbrio. Enquanto a turma se mexe para lá e para cá, não se perde um lance. Um educador atento sabe quando um suspiro revela cansaço ou uma careta demonstra algum desagrado.
Foto: Marcos Rosa
MOVIMENTO Na creche, os pequenos vão conhecendo os limites do corpo e as conseqüências das ações
Esta creche faz Brincar, dormir, mamar, almoçar e dançar acompanhando o ritmo da música. A turma de 1 ano da CEI Cidade de Genebra, em São Paulo, não pára quieta. "Logo que acordam, os bebês tomam mamadeira e saem dos colchonetes quando querem. Como não há berços, eles têm liberdade para se movimentar", diz a professora Anali Pereira dos Reis. No solário, com brinquedos de plástico e espaço para correr, eles escorregam, se balançam na gangorra e andam no cavalinho. Mesmo tão novinhos, já são craques no sobe-e-desce e no equilíbrio. Faz pouco tempo que aprenderam a andar, mas já entram nos carrinhos de plástico e saem dele sem ajuda e se divertem passando por dentro de bambolês, dando cambalhotas e rolando nos colchões. Arte Por que trabalhar A música e as artes visuais são dois meios de os pequenos entrarem em contato com o que ainda não conhecem. Nessa fase, as linguagens se misturam e um mesmo objeto, como um giz de cera, pode ser usado para desenhar ou batucar. "Aqueles que têm oportunidade de participar de atividades nessas áreas certamente desenvolvem mais a capacidade cognitiva", diz Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá.
Foto: Marcos Rosa
ARTE Materiais de texturas e cores variadas, como tintas comestíveis, aguçam os sentidos
O que propor Quanto mais variadas as experiências apresentadas, maior a garantia de qualidade no desenvolvimento do grupo. Escutar sons, como os produzidos por batidas em várias partes do próprio corpo e pela manipulação de objetos, ouvir canções de roda, parlendas, músicas instrumentais ou as consideradas "de adulto" faz a diferença nessa fase. Além de ouvir e repetir um repertório já conhecido, a turma deve ser orientada a improvisar e criar canções, brincar com a voz, imitar sons de animais e confeccionar instrumentos. "A música contribui para um desenvolvimento pleno e harmônico, já que incide diretamente na sensibilidade, na expressão e na reflexão", afirma Teca Alencar de Brito, co-autora do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Da mesma maneira, o ideal são atividades de artes visuais diversificadas. Uma boa prática inclui desenhos - e não o preenchimento de modelos prontos -, pinturas ou esculturas usando diversos materiais e possibilitar o contato com novos recursos visuais para ampliar as referências artísticas. As produções da classe ficam à disposição para que sejam observadas e comentadas e para que cada um reconheça o que é de sua autoria. Esta creche faz No EMI Josefina Cipre Russo, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, artes visuais e música fazem parte do cotidiano dos pequenos de 3 anos. Eles criam instrumentos com materiais reciclados e acompanham as músicas dançando e cantando. No dia-a-dia, eles desenham com giz, lápis, guache e aquarela, fazem esculturas e mexem com massinha e tintas comestíveis. Assim, a turma sente cheiros e texturas e aprecia cores diferentes. "As tintas são caseiras e dá para limpá-las facilmente. Colocar na boca ou deixar cair na roupa não é problema", diz a diretora, Eliane Migliorini. Identidade e autonomia Por que trabalhar O bebê nasce em uma situação de total dependência e, pouco a pouco, necessita se tornar autônomo. "Enquanto adquirem condições para realizar ações, as crianças começam a saber das conseqüências de suas escolhas", explica Beatriz Ferraz, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária, em São Paulo. Autonomia e identidade se desenvolvem simultaneamente e, mesmo num ambiente coletivo, é preciso dar atenção individualizada às crianças.
Foto: Marcos Rosa
AUTONOMIA Escolher o que gosta e aprender a se alimentar sozinho é caminho para se tornar independente
O que propor As melhores experiências são as pautadas pelo relacionamento com os outros e pela demonstração de preferências. "Se a criança não tem opção, como vai decidir?", diz Cisele, do Avisa Lá. É essencial oferecer possibilidades - na hora da brincadeira ou da merenda, por exemplo - para que os pequenos sejam incentivados a se conhecer melhor e a optar. Ao servir os alimentos sem misturá-los, o educador permite a cada um identificar aquilo de que mais gosta. Oferecer a colher para que todos comam sozinhos também é primordial. Por meio da observação, uns aprendem com os outros. Mesmo que no começo façam sujeira e demorem para se alimentar, aos poucos adquirem a destreza do movimento. A organização do ambiente em cantos de atividades é outro meio de favorecer o exercício de escolha, já que cada um define onde brincar, com quem e por quanto tempo. Para ajudar na construção da identidade, cabe ao educador chamar cada um pelo nome e ressaltar a observação dos aspectos físicos individuais. "Colocar grandes espelhos nas salas, ter fotos de cada um junto dos cabides em que penduram as mochilas, identificar as pastas com o nome e um desenho, por exemplo, são ótimas maneiras de estimular a atenção para as próprias características e fazê-los perceber a diferença e semelhança em relação aos colegas", diz Cisele.
Foto: Marcos Rosa
IDENTIDADE Painéis de fotos são úteis para que cada um se reconheça e encontre os colegas
Esta creche faz Na turma de 2 anos da CEI Jacyra Pimentel Gomes, em Sobral, a 248 quilômetros de Fortaleza, cada criança vê o nome escrito, reconhece a própria foto e aprecia imagens da família nas paredes da sala. A coordenadora pedagógica Carlinda Maria Lopes Barbosa diz: "Cada um entende que é diferente do amigo por ser identificado de outra maneira". Para reforçar esse aprendizado, explica-se que existem objetos que são compartilhados e outros individuais, como a mochila e as roupas.
3 perguntas
Denise Argolo Estill
Foto: Rodrigo Erib
Psicóloga e psicopedagoga do Infans - Unidade de Atendimento ao Bebê, de São Paulo, fala sobre o que caracteriza o desenvolvimento das crianças da creche. O que distingue os três primeiros anos de vida? Esse é o período sensório-motor, caracterizado pela inteligência prática. O mundo é algo a experimentar e conhecer por meio dos órgãos dos sentidos e das ações corporais. Como a criança aprende? Presa à experiência imediata, ela necessita da presença dos objetos concretos. Seus esquemas de ação são olhar, agarrar, ouvir, alcançar com a boca ou sentir com a pele. Quais os procedimentos para potencializar o desenvolvimento nessa faixa etária? A primeira coisa a fazer é incentivar o uso da ferramenta mais poderosa, que é o corpo. Por meio dele, a criança entra em contato com texturas, temperaturas e gostos. Outras ações são estimular a linguagem verbal - por meio de histórias e músicas - e a imitação, entendendo a necessidade de reproduzir gestos e falas e procurando valorizar a expressão individual de cada um.

EDUCAÇÃO INFANTIL - PRÉ-ESCOLA Brincar Por que trabalhar Essa é uma fase de ampliação do universo de informações: a mamãe é vendedora, o papai é motorista, o herói preferido voa, o livro de histórias fala de uma princesa bonita e corajosa. O meio de processar e assimilar tantos assuntos - enfim, entender o mundo - é brincar de faz-de-conta. "A complexidade da fantasia criada depende das experiências já vividas. Por isso, é fundamental oferecer ambientes ricos em possibilidades", afirma Zilma, da USP.
Fotos: Leo Drumond/Ag. Nitro
BRINCAR Nessa fase, a turma já compartilha momentos no parque (à esq.) e no faz-de-conta (direita)
O que propor As crianças ainda se divertem com os brinquedos de encaixar ou no parque, mas na pré-escola ganham destaque os jogos de regras - que exigem cumprimento de normas, concentração e raciocínio - e, principalmente, os simbólicos, em que se assumem papéis. Elas se apropriam dos elementos da realidade e dão a eles novos significados. Por meio da fantasia, aprendem sobre cultura. Ao dar bronca em uma boneca, por exemplo, os pequenos usam frases ouvidas de diálogos dos adultos, da TV e, em especial, de livros de histórias. A literatura traz elementos ausentes do cotidiano. A meninada vai se tornando capaz de interagir com as brincadeiras por um tempo maior e considerar que os outros podem participar também. "No faz-de-conta, acontece algo íntimo que não se deve atropelar. O professor contribui com um gesto, uma palavra ou um brinquedo, mas a turma é livre para aceitar ou não", explica Zilma. Uma boa estratégia para enriquecer o brincar é atrair a garotada para espaços diferenciados, como o canto da casinha, do salão de maquiagem, da mecânica ou da biblioteca. O cenário, por si só, avisa a proposta da brincadeira e pressupõe papéis. Depois, com o tempo, o grupo mesmo produzirá outros. Esta pré-escola faz Na CMEI Patrícia Galvão, em Guarulhos, na Grande São Paulo, o brincar é encarado como uma situação cotidiana e um direito das crianças. Em todas as salas ficam fantoches, fantasias e cenários para as atividades simbólicas, bastante apreciadas. Quando enjoam, os pequenos vão à brinquedoteca e os trocam por outros. Não são raras as vezes em que a turma de 4 anos se empolga com um livro lido em sala, corre para o canto em que ficam as fantasias e assume o papel dos personagens. Segundo a diretora Djenane Martins Oliveira, para garantir e melhorar as possibilidades de experimentação lúdica, os pequenos têm acesso diário a brinquedos de variados materiais, como tecido, plástico, madeira e espuma. Há também aqueles que não parecem, mas são brinquedos também, como pedrinhas, grama e areia. "Sempre temos à disposição das crianças caixas de papelão, que elas usam para produzir objetos que são incluídos nas atividades por elas mesmas." Linguagem oral Por que trabalhar No início da pré-escola, coloca-se um importante desafio em linguagem oral: não apenas falar, mas antecipar e planejar o que se quer dizer. "Para que isso aconteça, ou seja, para que a oralidade seja usada cada vez mais e de melhor forma, é preciso trabalhá-la diariamente com base em diferentes temas, contextos e interlocutores", diz Maria Virgínia, da Editora Moderna.
Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro
LINGUAGEM ORAL A fala se aprimora em contextos diversos, como na roda de conversa
O que propor A escola deve oferecer um ambiente que estimule a comunicação verbal - não apenas em sala mas também no refeitório, no pátio, na brinquedoteca, nos corredores. Para conversar, ali estão amigos, educadores, merendeiros, porteiros e diretores. Oportunidades tão distintas tornam as situações de fala mais ricas, elaboradas e complexas. Os momentos são divididos em dois tipos: formais e informais. Os informais são, por exemplo, as rodas de conversa. Nelas, o professor faz uma proposição, por exemplo, a respeito de uma notícia da comunidade ou de algo que será feito depois, como uma receita culinária. Nesse momento, cada um ouve o que os outros têm a dizer, coloca sua opinião e inicia os próprios relatos. Situações formais são aquelas em que as crianças se dirigem a outros interlocutores que não os próprios colegas de classe, como outra turma, para quem vão contar uma história, ou um adulto a ser entrevistado. Assim, ao longo de toda a pré-escola, são desenvolvidas e aperfeiçoadas competências como a de recontar histórias e elaborar perguntas, declamar poesias e relatar acontecimentos do próprio cotidiano ou de outras pessoas. De acordo com Maria Virgínia, "o resultado é que os pequenos aprendem linguagem e com a linguagem". Essa competência também é potencializada por meio das brincadeiras com as palavras presentes na tradição oral, nos textos poéticos e nas parlendas, por exemplo - que já contribuem para o aumento do repertório verbal desde a creche. Esta pré-escola faz São diversas as experiências de desenvolvimento da linguagem oral na UMEI Mangueiras, em Belo Horizonte. Lá, as rodas de conversa sobre o planejamento do dia abrem as atividades, mas outros temas também fazem parte do bate-papo. Na sala ou no pátio, elas recontam histórias e apresentam músicas e dramatizações. "Os mais velhos ajudam no desenvolvimento da linguagem dos menores durante atividades corporais. Eles criam canções e gritos de guerra e os pequenos se juntam a eles, cantando também", conta a vice-diretora, Mônica Freitas Mol de Andrade. Movimento Por que trabalhar Na pré-escola, a criança já tem desenvoltura para se comunicar verbalmente. Mesmo assim, o movimento ainda é um meio de expressar o que ela quer. Por isso, eles continuam a ser valorizados na pré-escola. Nessa fase, ela se torna mais ciente de si, conhece mais o corpo e ganha competência para atuar no mundo. "Por isso, é preciso evitar a tendência de deixar atividades desse tipo de lado com turmas a partir dos 4 anos", diz Maria Paula, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Foto: Marcos Rosa
MOVIMENTO Na pré-escola, as crianças planejam as ações, como onde se apoiar para subir no escorregador
O que propor Atividades como danças, jogos esportivos e teatro aumentam e fazem evoluir as possibilidades com o corpo. Ações como segurar o talher e o lápis e usar a tesoura se aprimoram, mas não adianta promover "treinos". "As habilidades se consolidam apenas diante das necessidades reais", explica Maria Paula. Em especial entre os maiores, de 5 e 6 anos, a capacidade de planejar as ações de movimento se amplia. Por isso, atividades ao ar livre, no parque, se tornam mais ricas. Para se divertir num escorregador, as crianças conseguem observar os degraus onde pisar e calcular o que fazer para chegar ao topo e depois deslizar. Esta pré-escola faz A professora Magda Carvalho Aranda, da CEI Maria do Rosário Bastos, em Poços de Caldas, a 465 quilômetros de Belo Horizonte, propõe jogos corporais para as crianças de 5 anos. Em um deles, elas batem palmas, levam as mãos aos pés e também à cabeça. Após uma seqüência simples, a turma combina movimentos mais elaborados, como levantar a mão esquerda e se manter apenas sobre o pé direito, favorecendo o equilíbrio. A mesma atividade pode se tornar mais divertida se acompanhada de música com ritmos cada vez mais rápidos. Outra brincadeira que os pequenos curtem é a da maria-fumaça. "Conforme o ritmo de um chocalho acelera, o corpo entra no embalo, com movimentos de braços e pernas", explica Magda. Arte Por que trabalhar As experiências desenvolvidas em música e artes plásticas, de acordo com Silvana, do Avisa Lá, têm papel primordial na formação do pensamento simbólico. "Ambas exercem forte influência no desenvolvimento da criatividade e da imaginação." Nessa fase, as duas linguagens já são trabalhadas de forma separada.
Foto: Marcelo Rudini
ARTE O desenho, feito com materiais como o carvão (direita), e a colagem com lã (à esq.) se aprimoram
O que propor É essencial ampliar o repertório de canções, promover o contato com instrumentos variados e explorar os sons da natureza e dos feitos com o corpo, além do silêncio. O bom projeto é o que permite conhecer e criar. Em artes visuais, é importante apresentar obras de pintores famosos - para ampliar o repertório e trazer riqueza ao trabalho dos pequenos -, mas não como pretexto para propor cópias. Nessa fase, o ideal é desenvolver cada vez mais o desenho e a pintura, em atividades diárias. Não é necessário usar grande variedade de materiais. Esta pré-escola faz Nas salas de préescola do CMEI Dr. Arnaldo Carnasciali, em Curitiba, sempre há nas paredes uma pintura, gravura ou fotografia para ampliar o repertório dos pequenos. Durante um projeto sobre identidade, as turmas fizeram retratos. Olhando no espelho, cada um produziu o seu, usando lã e barbante para compor os cabelos, por exemplo. Todos desenharam também o amigo, aprimorando a percepção sobre o outro. A experimentação musical inclui a exploração de estilos diferentes, como cantigas de roda, músicas clássicas e canções do folclore brasileiro. "Essas situações ampliam o repertório, favorecem a concentração e permitem o desenvolvimento de habilidades como o ritmo", diz a diretora, Vanessa de Sousa Martinez. Leitura e escrita Por que trabalhar É um adulto leitor que mostra às crianças o significado da escrita que está nos livros. Ao escutar uma história, as turmas entram na narrativa e compartilham as sensações dos personagens. "É hora de ampliar o repertório e dar maior organização ao pensamento", diz Débora Rana, coordenadora pedagógica de Educação Infantil da Escola Projeto Vida, na capital paulista.
Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro
LEITURA E ESCRITA Conhecer os gêneros (direita) é o melhor meio de entrar no mundo dos textos (à esq.)
O que propor Durante as rodas de histórias, o grupo é capaz de escolher os livros prediletos, acompanhar a obra de um autor, opinar e fazer relatos. Quanto maior a variedade de gêneros, melhor: contos, poesias, parlendas, quadrinhas, gibis, lendas, fábulas, bilhetes, crônicas, textos informativos e instrucionais. A leitura diária de diferentes gêneros pelo professor aumenta cada vez mais a curiosidade e o conhecimento sobre a linguagem escrita. "Aos 4 anos, já é possível recontar textos e aos 5 produzir as próprias histórias, ditando o texto a um escriba", afirma Débora. Esta pré-escola faz Na Creche Conveniada Lírios do Campo, em São José dos Campos, a 97 quilômetros de São Paulo, a pré-escola tem acesso a textos de diferentes gêneros, desenvolve atividades de reconto de histórias, leva livros para casa nos fins de semana, cria poesias e é estimulada a escrever. Mesmo durante as brincadeiras, surgem oportunidades de enriquecer a escrita. "Quando inauguramos o canto do cabeleireiro, visitamos um salão de beleza. Depois, foi produzido um texto sobre o encontro com os profissionais e elaborada uma tabela de preços", relata a coordenadora pedagógica Ana Lúcia Rodrigues da Silva Ferreira.

O pai da didática moderna


IDEALISMO COMÊNIO

O filósofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo para todos" e foi o primeiro teórico a respeitara inteligência e os sentimentos da criança O filósofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo para todos" e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criançaQuando se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em concepções modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas – absolutamente todas – à educação é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de anos. De fato, essas idéias se consagraram apenas no século 20, e assim mesmo não em todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século 17 por Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação.Corbis /Stock PhotosA obra mais importante de Comênio, Didactica Magna, marca o início da sistematização da pedagogia e da didática no Ocidente. A obra, à qual o autor se dedicou ao longo de sua vida, tinha grande ambição. "Comênio chama sua didática de ‘magna’ porque ele não queria uma obra restrita, localizada", diz João Luiz Gasparin, professor do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá. "Ela tinha de ser grande, como o mundo que estava sendo descoberto naquele momento, com a expansão do comércio e das navegações."HULTON ARCHIVE/Getty ImagesGravura do próprio Comênio para um de seus livros de texto: aprender brincandoNo livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades. Ruptura com a escolástica Comênio era cristão protestante e pertencia ao grupo religioso Irmãos Boêmios, ao qual se manteve vinculado por toda a vida, tornando-se, em 1648, bispo dos morávios. Embora profundamente religioso, o pensador propôs uma ruptura radical com o modelo de escola até então praticado pela Igreja Católica, aquele voltado apenas para a elite e dedicado primordialmente aos estudos abstratos. Ainda vigoravam as doutrinas escolásticas da Idade Média, pelas quais todas as questões teóricas se subordinavam à teologia cristã.BiografiaO nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca). O pensador Comênio foi filho único de um casal de membros do grupo protestante Irmãos Boêmios. Na Universidade de Heidelberg (Alemanha), se entusiasmou com as idéias de filósofos que criavam uma concepção de ciência baseada no empirismo. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polônia quando, no início da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo na Boêmia. Sua revolta com a situação o levou a escrever obras filosóficas e pedagógicas satirizando a ordem vigente e propondo mudanças radicais. Essas idéias seduziram pensadores da Inglaterra, que o convidaram a trabalhar no país, mas o projeto foi abortado pela eclosão da Guerra Civil Inglesa, em 1642. Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Suécia e da Hungria acabaram fracassando – em parte por causa da insistência do pensador em divulgar sua "pansofia", sem sucesso – e ele voltou para a Polônia. Comênio teve novamente de fugir de uma guerra civil e estabeleceu-se em Amsterdã, onde permaneceu até morrer, em 1670. Por essa época, seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de línguas e ciências tinham se tornado uma bem-sucedida novidade nas escolas da Europa.Comênio não foi o único pensador de seu tempo a combater o pedantismo literário e o sadismo pedagógico, mas ousou ser o principal teórico de um modelo de escola que deveria ensinar "tudo a todos", aí incluídos os portadores de deficiência mental e as meninas, na época alijados da educação. "Ele defendia o acesso irrestrito à escrita, à leitura e ao cálculo, para que todos pudessem ler a Bíblia e comerciar", diz Gasparin. Comênio respondia assim a duas urgências de seu tempo: o aparecimento da burguesia mercantil nas cidades européias e o direito, reivindicado pelos protestantes, à livre interpretação dos textos religiosos, proibida pela Igreja Católica. A obra de Comênio corresponde também a outras novidades, entre elas "o despertar de uma nova concepção de criança", como diz Gasparin. "Ele a trata em seus livros com muita delicadeza, num tempo em que a escola existia sob a égide da palmatória", continua o professor. "A educação era vista e praticada como um castigo e não oferecia elementos para que depois as pessoas se situassem de forma mais ampla na sociedade. Comênio reagiu a esse quadro com uma pergunta: por que não se aprende brincando?" Salvação da alma Sob influência de seitas protestantes e do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), Comênio acreditava que a salvação da alma poderia ser alcançada durante a vida terrena e que o caminho para isso poderia ter a ajuda da ciência. Para ele, a criatura humana correspondia ao ideal de perfeição. Comênio acreditava que, por ser dotado de razão, o homem pode entender a si e a todas as coisas. Portanto, deve se dedicar a aprender e a ensinar. Seguindo esse pensamento, Comênio conclui que o mais importante na vida não é a contemplação e sim a ação, o "fazer".Para pensarRISCHGITZ/Getty ImagesGráficos do século 16 na Itália, em gravura da época: a técnica a serviço do saberA maior contribuição de Comênio para a educação dos dias de hoje é, segundo o professor Gasparin, a idéia de "trazer a realidade social para a sala de aula, fazendo uso dos meios tecnológicos mais avançados à disposição". De tão fascinado pela invenção da imprensa e pela possibilidade de disseminação de conhecimento que ela representava, Comênio criou a expressão "didacografia" para designar o método universal de ensino que ele pretendia inaugurar. Nos dias de hoje, a tecnologia da informação seria capaz de realizar essa revolução? Qual é sua opinião?No pensamento humanista do pedagogo tcheco, a instrução e o trabalho diferenciavam o homem burguês do homem feudal. Em sua trajetória, o novo indivíduo deveria imitar a natureza, porque, emulando Deus e respeitando as aptidões de cada um, não haveria possibilidade de erro. De Bacon, Comênio adotou o método empírico de explorar o mundo, em contraposição às verdades impostas pelo ensino medieval. Pela experimentação, ele acreditava que todos poderiam vir a enxergar a harmonia do universo sob o caos aparente. "Comênio queria mudar a escola com a didática e a sociedade com a educação", diz Gasparin. "Era um grande idealista."EM BUSCA DA HARMONIA UNIVERSALComênio viveu a maior parte da vida cercado de guerras. Algumas delas, como a Guerra dos 30 Anos, de protestantes contra católicos, lhe diziam respeito diretamente. Toda sua obra foi marcada profundamente por isso, uma vez que o fim último de seu pensamento era a compreensão universal, que uniria toda a humanidade. Ele perseguiu desde a juventude a unificação da totalidade do conhecimento humano, porque imaginava que ele era finito e imutável. A construção de uma enciclopédia do saber e sua adaptação às capacidades infantis são o grande tema da pedagogia de Comênio, e para sustentá-la ele criou uma base filosófica que denominou "pansofia", a procura de um princípio básico que harmonizasse todo o saber. Ao contrário de seu pensamento educacional, que suscitou interesse pela Europa afora, a pansofia não teve seguidores.Quer saber mais?Comênio: A Emergência da Modernidade na Educação, João Luiz Gasparin, 147 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 20 reais Comenius: a Persistência da Utopia em Educação, Wojciech A. Kulesza, 214 págs., Ed. Unicamp, tel. (19) 3521-7718 (edição esgotada)

O inimigo número um do professor...


Estresse: o inimigo número 1 do professor.

Na hora do café, na sala dos professores, o assunto se repete. O desafio de todo mundo é dar conta de tantas responsabilidades na escola, em casa e nos estudos. Mesmo com a vida cada vez mais difícil, é possível não cair num mar de desânimo e administrar bem o estresse. Na medida certa, acredite, essa reação do organismo é necessária para ajudar você a enfrentar situações de desafio ou emoções muito fortes. Em excesso, no entanto, pode tirar todo o seu pique e abrir as portas do organismo para doenças. Um dos maiores desafios dos dias de hoje é justamente conseguir equilibrar o trabalho e as emoções sem se deixar dominar pelo estresse. Estudos internacionais comprovam que ele é um dos principais fatores de afastamento do trabalho e de queda do rendimento profissional. Em 2003, um terço dos professores na Grã-Bretanha abandonaram temporariamente seus alunos por estarem estressados, angustiados ou deprimidos, de acordo com um estudo do Schools Advisory Service. No Brasil, pesquisa realizada pela Universidade de Brasília e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação com professores do Rio de Janeiro aponta que 30% sofrem de exaustão emocional. Você está na sua lista de prioridades?O planejamento do ano letivo e dos projetos pessoais para 2005 dizem muito sobre os riscos de se tornar vítima do estresse. Você pensou nos materiais que vai pedir à direção, em novas atividades e projetos, nas leituras essenciais para se atualizar, nos assuntos para discutir com os pais e nas reuniões de trabalho, em métodos de avaliação, nas contas que tem para pagar, no tempinho que vai reservar para seus filhos... E você, onde entra nessa história? Para Maria de Lourdes Magalhães, pedagoga especializada em saúde coletiva, de Brasília, quem se cuida tem um desempenho melhor em sala de aula. Isso inclui fazer o que gosta, curtir a família e os amigos, se distrair com uma boa leitura, praticar exercícios físicos e se alimentar bem. "O estresse é contagioso", brinca a pedagoga. "Um professor desanimado é capaz de desanimar a turma inteira." Um exemplo: em uma aula de Ciências, você dificilmente conseguirá passar aos alunos a importância de cuidar do corpo, de comer alimentos saudáveis e de se relacionar bem com os pais e amigos, se tiver o rosto cansado e for o retrato do desânimo. Maria de Lourdes vai mais longe. Ela defende que o autocuidado se torne disciplina nos cursos de formação docente e alerta para a necessidade de políticas públicas voltadas para a saúde dos professores. É certo que suas obrigações e preocupações não vão desaparecer do dia para a noite. Portanto, além de torcer para que os pais colaborem na educação das crianças, de reivindicar mais infra-estrutura da direção e lutar para ter seu trabalho reconhecido, reserve um espaço para você. "Não podemos deixar o prazer e o descanso em último plano. É preciso equilibrar obrigações e prazer", afirma Marilda Lipp, pesquisadora do Centro Psicológico de Controle do Stress, em Campinas (SP).O poder dos exercícios e dos alimentos saudáveisCada ser humano tem uma resistência ao estresse e diferentes possibilidades de enfrentá-lo. Os tímidos, ansiosos e apressados são os que correm mais perigo. A professora de Educação Infantil Erika Ziegelmeyer Barbosa, da Escola Sá Pereira, no Rio de Janeiro, era muito impaciente e sentia fortes dores lombares. Antes que os sintomas aumentassem, ela encontrou um escape nos movimentos do tai chi chuan, técnica de arte marcial chinesa. "Não há comparação entre o que era e o que sou. Os exercícios regulam minha concentração e a respiração. Sou mais calma e não luto contra o tempo", diz a professora, que pratica os exercícios três vezes por semana, pela manhã. Os médicos são unânimes: a regularidade da atividade física contribui para a sensação de bem-estar porque o organismo libera endorfina, reforçando a capacidade de combater o estresse. Não há uma única receita para todas as pessoas. Porém, ao lado dos exercícios regulares, outro fator importante na prevenção ao estresse é uma dieta saudável - e isso significa comer na hora certa muitos legumes, frutas e verduras. "O ideal é ter sempre algo saudável à mão, como biscoitos sem recheio, frutas e barras de cereais", explica a nutricionista Camila Andrade Pereira, de São Paulo. Outro conselho importante: sucos e chás são as melhores bebidas para tomar nos intervalos das aulas e na hora do lanche - evite o chá-mate e o preto, pois contêm cafeína. Portanto, no próximo bate-papo na sala dos professores, que tal dispensar o cafezinho?

Fonte: www.novaescola.org.br

Dicas de alfabetização...



1- Meus alunos de 1ª série não têm contato com a escrita. Por onde começo?

O pouco acesso à cultura escrita se deve às condições sociais e econômicas em que vive grande parte da população. O aluno que vê diariamente os pais folheando revistas, assinando cheques, lendo correspondências e utilizando a internet tem muito mais facilidade de aprender a língua escrita do que outro cujos pais são analfabetos ou têm pouca escolaridade. Isso ocorre porque ao observar os adultos a criança percebe que a escrita é feita com letras e incorpora alguns comportamentos como folhear livros, pegar na caneta para brincar de escrever ou mesmo contar uma história ao virar as páginas de um gibi. Cabe à escola oferecer essas práticas sociais aos estudantes que não têm acesso a elas. O ponto de partida para democratizar o contato com a cultura escrita é tornar o ambiente alfabetizador: a sala deve ter livros, cartazes com listas, nomes e textos elaborados pelos alunos (ditados ao professor) nas paredes e recortes de jornais e revistas do interesse da garotada ao alcance de todos. Esses são alguns exemplos de como a classe pode se tornar um espaço provocador para que a criança encontre no sistema de escrita um desafio e uma diversão. Outra medida para democratizar esses conhecimentos em sala de aula é ler diariamente para a turma. "A criança lê pelos olhos do professor - porque ainda não pode fazer isso sozinha -, mas vai se familiarizando com a linguagem escrita", explica a educadora Patrícia Diaz, da equipe pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo

2 Quando posso pedir que as crianças escrevam?
Elas devem escrever sempre, mesmo quando a escrita parece apenas rabiscos. Ao pegar o lápis e imitar os adultos, elas criam um "comportamento escritor". E, ao ter contato com textos e conhecer a estrutura deles, podem começar a elaborar os seus. No primeiro momento, as crianças ditam e você, professor, escreve num papel grande. Além de pensar na forma do texto, nessa hora os estudantes percebem, por exemplo, que escrevemos da esquerda para a direita. "Mostro que a escrita requer um tempo de reflexão antes de ser colocada no papel", afirma Cleonice Maria Rodrigues Magalhães, professora de 1ª série da Escola Municipal Agnes Pereira Machado, em Catas Altas (MG). Ela participou do Programa Escola que Vale, que capacitou professores de 1ª a 4ª série do município durante dois anos e meio. Antes da escrita, as crianças devem definir quem será o leitor. Assim, quando você lê o texto coletivo, elas imaginam se ele compreenderá a mensagem. Nas primeiras produções haverá palavras repetidas, como "daí". Pelo contato diário com textos, os alunos já são capazes de revisar e corrigir erros. "Com o tempo, antes mesmo de ditar, eles evitam repetir palavras e pensam na melhor forma de contar a história", afirma Rosana Scarpel da Silva, professora do Infantil IV (6 anos), da Escola Municipal de Educação Infantil Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos. Em paralelo, é importante convidar a garotada a escrever no papel. Isso dá pistas valiosas sobre seu desenvolvimento.
3- Como faço todos avançarem se os níveis de conhecimento são muito diferentes? Não há nada melhor em uma turma que a heterogeneidade. Como os níveis de conhecimento são variados, existe aí uma grande riqueza para ser trabalhada em sala. Organizar os alunos em grupos e duplas durante as atividades é fundamental para que eles troquem conhecimentos. Mas essa mistura deve ser feita com critérios. É preciso agrupar crianças que estejam em fases de alfabetização próximas. Quando você coloca uma que usa muitas letras para escrever cada palavra trabalhando com outra que usa uma letra para cada sílaba, a discussão pode ser produtiva. Como elas não sabem quem está com a razão, ambas terão de ouvir o colega, pensar a respeito, reelaborar seu pensamento e argumentar. Assim, as duas aprendem. Isso não ocorre, no entanto, se os dois estiverem em níveis muito diferentes. Nesse caso, é provável que o mais adiantado perca a paciência e queira fazer o serviço pelo outro.


4- Posso alfabetizar minha turma de Educação Infantil?

Sim, desde que a aprendizagem não seja uma tortura. Participar de aulas que despertem a curiosidade e envolvam brincadeiras e desafios nunca será algo cansativo. Em turmas que têm acesso à cultura escrita, a alfabetização ocorre mais facilmente. Por observar os adultos, ouvir historinhas contadas pelos pais e brincar de ler e escrever, algumas crianças chegam à Educação Infantil em fases avançadas. Por isso, oferecer acesso ao mundo escrito desde cedo é uma forma de amenizar as diferenças sociais e econômicas que abrem um abismo entre a qualidade da escolarização de crianças ricas e pobres. Dentro dessa concepção, a rede municipal de São José dos Campos implementou horas de trabalho coletivo para a formação continuada dos professores. Há um coordenador pedagógico por escola e uma equipe técnica responsável pelo acompanhamento dos coordenadores. As crianças de 3 a 6 anos atendidas pela rede aprendem, brincando, a usar socialmente a escrita. Em sala, os professores lêem diariamente e promovem brincadeiras. Os pequenos identificam com seu nome pastas e materiais, usam crachás, produzem textos coletivos que ficam expostos nas paredes e têm sempre à mão livros e brinquedos. "Nossas atividades incentivam a pensar sobre a escrita, tornando-a um objeto curioso a ser explorado. E tudo de forma dinâmica, porque a dispersão é rápida", conta Clarice Medeiros, professora do Infantil III (5 anos) da escola Maria Alice Pasquarelli. "No ano passado, quando recebi os alunos de 3 anos, eles já sabiam diversos poemas e conheciam Vinicius de Moraes. Também identificavam as diferenças entre alguns gêneros textuais", lembra Liliane Donata Pereira Rothenberger, professora do Infantil II (4 anos). De acordo com a orientadora pedagógica Helena Cristina Cruz Ruiz, o objetivo é desenvolver o comportamento leitor desde cedo para que os alunos se comuniquem bem, produzam conhecimentos e acessem informações.

5- Faz sentido oferecer textos a estudantes não-alfabetizados?

Canções, poesias e parlendas são úteis para se chegar à incrível mágica de fazer a criança ler sem saber ler. Quando ela decora uma cantiga, pode acompanhar com o dedinho as letras que formam as estrofes. Conhecendo o que está escrito, resta descobrir como isso foi feito. Se o aluno sabe que o título é Atirei o Pau no Gato, ele tenta ler e verificar o que está escrito com base no que sabe sobre as letras e as palavras - sempre acompanhado pelo professor. O leitor eficiente só inicia a leitura depois de observar o texto, sua forma, seu portador (revista, jornal, livro etc.) e as figuras que o acompanham e imaginar o tema. Pense que você nunca viu um jornal em alemão. Mesmo sem saber decifrar as palavras, é possível "ler". Se há uma foto de dois carros batidos, por exemplo, deduz-se que a reportagem é sobre um acidente. Ao mostrar vários gêneros, você permite à criança conhecer os aspectos de cada um e as pistas que trazem sobre o conteúdo. Assim, ela é capaz de antecipar o que virá no texto, contribuindo para a qualidade da leitura.

6- Como seleciono e uso os textos em sala?

Segundo Patrícia Diaz, do Cedac, é preciso ter critérios e objetivos bem estabelecidos ao escolher os textos. Por exemplo: se ao tentar diversificar os gêneros você ler um por dia, os alunos não perceberão as características de cada um. "O ideal é que a turma passeie por diversos gêneros ao longo do ano, mas que o professor trace um plano de trabalho para se aprofundar em um ou dois", afirma. Patrícia sugere a narração como base para o trabalho na alfabetização inicial, pois ela permite ao aluno aprender sobre a estrutura da linguagem e do encadeamento de idéias. A escolha dos textos deve ser feita de acordo com o repertório da turma. É preciso verificar se a maioria dos alunos passou ou não pela Educação Infantil, que experiência eles têm com a escrita e que gêneros conhecem. Durante a leitura de uma revista, por exemplo, é importante chamar a atenção para títulos, legendas e fotos. Assim, as crianças aprendem sobre a forma e o conteúdo. Se o texto é sobre plantas, percebem que nomes científicos aparecem em itálico. "Por isso é fundamental trabalhar com os originais ou fotocópias", ressalta Patrícia. Adaptar os textos também não é recomendável. As crianças devem ter contato com obras originais, uma vez que, ao longo da vida, serão elas que cruzarão o seu caminho. Se um texto é muito difícil para turmas de uma certa faixa etária, o melhor é procurar outro, sobre o mesmo assunto, de compreensão mais fácil.

7- Ao fim da 1ª série, todos devem estar alfabetizados?

Não necessariamente, apesar de ser recomendável. Se a criança foi exposta a textos e leituras variadas e teve oportunidade de refletir sobre a língua e produzir textos, é bem provável que ela termine essa série alfabetizada. Mas isso depende de outros fatores, como ter cursado a Educação Infantil e recebido apoio dos pais em casa. "Crianças que não têm esse contato com textos e que não convivem com leitores podem precisar de mais tempo para aprender o sistema de escrita. Mas minha experiência mostra que nenhuma criança leva mais de dois anos para isso", diz a educadora Telma Weisz, de São Paulo. Como na educação não existem fôrmas em que se encaixem as crianças, é papel da escola oferecer condições para que elas se desenvolvam, sempre respeitando o ritmo de cada uma. Quando se adota o sistema de ciclos, isso ocorre naturalmente, pois os alunos têm possibilidade de se aperfeiçoar no ano seguinte. Quando não há essa chance, eles correm o risco de engrossar os índices de reprovação. O aluno pode iniciar a 2ª série ainda tendo que melhorar a sua compreensão sobre o sistema de escrita, mas ao fim do segundo ano a escola teve tempo suficiente para ensinar a todos.
8- Preciso ensinar o nome das letras?

Sim. Como a criança poderá falar sobre o que está estudando sem saber o nome das letras? Ter esse conhecimento ajuda a turma a explicar qual letra deve iniciar uma palavra, por exemplo. Para ensinar isso, basta citar o nome das letras durante conversas corriqueiras. Se a criança está mostrando a que quer usar e não sabe o nome, basta que você a aponte e diga qual é. Trata-se de algo que se aprende naturalmente e de forma rápida, sem precisar de atividades de decoreba que cansam e desperdiçam o seu tempo e o do aluno.
9- Como ajudo alunos de 5ª série que ainda não lêem nem escrevem bem?

É angustiante para o professor receber crianças com problemas de alfabetização. Por não conhecer o assunto, acredita que a escrita incorreta é indício de que elas não se alfabetizaram. Mas nem sempre essa avaliação é verdadeira. O mais comum é a criança já dominar a base alfabética, mas ter sérios problemas de ortografia e interpretação. Daí a impressão de que ela não sabe ler e escrever. Foi essa experiência por que passaram as professoras Valéria de Araújo Pereira, de Língua Portuguesa, e Jaidê Canuto de Sousa, de Ciências, ambas da Escola Estadual Maria Catharina Comino, em Taboão da Serra (SP). Em 2005, elas lecionavam para uma turma de 5ª série de recuperação de ciclos com muitos problemas de escrita, o que as motivou a procurar a Diretoria de Ensino para participar do programa Letra e Vida, oferecido pela rede paulista a professores de 1ª a 4ª série. "Fiquei surpresa com a insistência das duas. Como havia vagas, abrimos uma exceção e valeu a pena", diz Silvia Batista de Freitas, coordenadora-geral do programa na Diretoria de Ensino da cidade. O curso iniciou em março. No segundo semestre, a turma de alunos foi distribuída nas salas regulares. Com o objetivo de trabalhar a escrita, Valéria e Jaidê elaboraram um projeto sobre aids. Os alunos assistiram a vídeos, debateram e levantaram o que sabiam e o que gostariam de saber sobre o assunto. As leituras foram sistemáticas e diárias, com pesquisas em livros, revistas, enciclopédias, internet e panfletos informativos - gênero escolhido para ser o produto final do projeto. "Leitura e escrita não são apenas conteúdos de Língua Portuguesa. São práticas necessárias em todas as disciplinas e em todas as séries", diz Jaidê. "Por isso, temos a responsabilidade de conhecer o modo como os alunos aprendem e assim estimulá-los a ser leitores e escritores mais competentes", conclui Valéria.

Do Ceará ao ITA


ENSINO MÉDIO
Do Ceará para o ITA
De um grupo de escolas de Fortaleza saem todo ano alguns dos melhores alunos em ciências exatas do país
25/11/2008 18:24TextoRenata Betti
Foto: Omar Paixão

Estudar no ITA é o sonho de muitos alunos cearences
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Em um pequeno conjunto de escolas no Ceará, os estudantes parecem se divertir aprendendo, tamanho é o seu entusiasmo em dissecar plantas, participar de campeonatos de matemática e varar madrugadas no laboratório. Pergunte a esses jovens o que eles mais ambicionam na vida, e a resposta será algo como "me tornar um bom cientista, claro". Tamanho apreço por matemática, química, física já chamaria atenção pelo fato de ser raro nas escolas brasileiras. O que surpreende ainda mais no caso desses estudantes é saber que, em meio a milhões de outros no país, eles estão entre os melhores em tais disciplinas. O desempenho exemplar em exatas é difícil de ver no Brasil – mais ainda no Ceará, onde as notas costumam ficar abaixo da média brasileira. O animado grupo de aspirantes a cientista é, portanto, responsável por dois feitos improváveis. Um deles foi ter alçado o Ceará à condição de estado com o maior índice de aprovações nos últimos cinco vestibulares do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), um dos mais concorridos do país. Entre os calouros, cerca de 30% sempre são cearenses. A posição de destaque se verifica também em outro levantamento recente, este com base nas olimpíadas nacionais de física, química e matemática. Dos 670 alunos que receberam medalhas em diferentes competições, 260 eram do Ceará. Nada menos que 40% dos campeões. A que se deve o inesperado sucesso cearense na área de exatas? A um grupo de escolas particulares de Fortaleza que, juntas, reúnem 25 000 estudantes dos ensinos fundamental e médio. Quando a primeira delas começou a focar o ensino das ciências, vinte anos atrás, foi sendo copiada pelas outras – que se viram na necessidade de mirar essas disciplinas para sobreviver à disputa por alunos. Os números mostram, agora, que a fórmula aplicada nessas escolas funciona. Não é exatamente original, mas tem o mérito de reunir algumas das medidas de eficiência comprovada em países como Finlândia e Coréia do Sul, os melhores do mundo em educação. Um dos pontos comuns entre as escolas coreanas ou finlandesas e estas cearenses é a carga horária puxada reservada às disciplinas exatas – 25% maior do que a média brasileira. A jornada de estudos é de sete horas, mas, entre aulas extras de xadrez e ("emocionantes") gincanas de matemática, os estudantes ficam ali por mais de doze. Nas escolas em que prevalecem o espírito de competição e a meritocracia, os melhores da turma são alçados às prestigiadas "classes olímpicas". Algo que move alunos como Guilherme Freire, 18 anos, do colégio Farias Brito: "Eu e meus colegas podemos passar o dia inteiro resolvendo um único problema de matemática. E isso é diversão, jamais sofrimento". O ambiente nessas escolas destoa também pelo alto nível dos professores e dos diretores: 60% são mestres ou Ph.Ds. numa ciência exata. É o caso do engenheiro Henrique Soárez, com mestrado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, hoje no comando da escola 7 de Setembro: "O ponto central aqui é que os professores se prepararam para desempenhar a função". Um contraste em relação ao que ocorre na maioria das escolas brasileiras. Nas públicas, impressiona o fato de 70% dos professores jamais terem estudado para ensinar tais disciplinas. Diante desse cenário, não espanta que, às vésperas da faculdade, os brasileiros (incluindo os de colégio particular) desconheçam a função dos órgãos do corpo humano e demonstrem perplexidade com o fato de a Terra girar em torno do Sol. Isso é o que mostra um estudo conduzido pela OCDE (organização dos países mais desenvolvidos), que produz os rankings internacionais de ensino – aqueles em que o Brasil aparece, sempre, entre os últimos. Diz o especialista Gustavo Ioschpe: "O desempenho ruim dos alunos brasileiros tem relação direta com o péssimo nível dos professores". Bons profissionais, por sua vez, conseguem algo que merece atenção no caso cearense – feito resumido em poucas palavras pela estudante Jéssica Fernandes, 18 anos: "Sabe o que é contar os minutos para uma aula começar?". A moça e seus colegas desfilam camisetas com os dizeres "Just do ITA" (Só faça ITA) e justificam as olheiras citando as noites insones no laboratório. As aulas práticas, cujo cenário são salas bem equipadas, também ajudam a explicar o sucesso do modelo cearense. Básico, mas raro no Brasil. "Os cearenses que chegam aqui sabem como aplicar o conhecimento científico ao mundo real", avalia o coordenador do vestibular do ITA, Luiz Carlos Rossato. Para passar num concurso tão difícil, os estudantes estão sujeitos a privações e muitas exigências escolares, entre elas resolver equações que consomem horas e horas da vida de gente como o cearense Tarcísio Neto, 19 anos, aprovado no ITA aos 16: "Para me tornar um bom engenheiro, vale o esforço". O entusiasmo dele e dos outros é mais um sinal de que se está, sem dúvida, diante de um bom exemplo.
Ciência nota 10
O que deu certo no caso de um grupo de escolas particulares do Ceará Jornada escolar: Sete horas, podendo chegar a doze com aulas extras de xadrez e gincanas de matemática Professores : A maioria possui mestrado ou doutorado em alguma ciência exata Meritocracia: Os melhores alunos têm o talento reconhecido e freqüentam “classes olímpicas” Competição: Participar de olimpíadas de ciência, dentro e fora da escola, é um incentivo para avançar Laboratórios: As aulas práticas despertam o interesse dos estudantes Biblioteca: Tem boa coleção de publicações científicas estrangeiras